A profª Ingrid Costa foi homenageada neste dia (2013) pelo Grupo Afoxé, como madrinha convidada, em seu primeiro ano de existência.
Em seu discurso, disse:
Em seu discurso, disse:
Não
há como me silenciar neste momento e ter falsa modéstia em dizer que não me
sinto feliz por essa homenagem. Sinto-me profundamente feliz com esse
reconhecimento, porque não sou eu a Ingrid, a importante, mas sim o que
represento que é importante.
Hoje
encontro aqui pessoas que foram de fundamental importância na minha trajetória
profissional e de luta. Não sou militante, brinco às vezes em dizer que não
faço parte de nenhum partido porque não sou partida, sou inteira; não defendo
a, b ou c, mas defendo o respeito pelo outro, pela vida, pela alegria de se
viver e de se viver bem, isso é universal.
Por
meu caminho, encontrei pessoas fantásticas, que acreditaram em meus sonhos,
minhas idéias, minhas loucuras. Algumas vieram aqui hoje e quero destacá-las. Uma
delas é a Profª Eliane que agora é minha colega de trabalho, talvez ela não
saiba a importância que teve em minha vida profissional quando ela abriu as
portas da escola Rui Poester há mais ou menos 20 anos atrás para essa que era
ainda estudante de pedagogia, já falava em cultura afro, cheia de idéias
aparentemente malucas e me permitiu dividir alguns dos meus sonhos com seus
professores e alunos, fiz o pessoal dançar, cantar, celebrar a vida numa
perspectiva afro-brasileira. Um ato aparentemente insignificante para ela,
talvez, mas que me oportunizou ter coragem e seguir em frente. Outra pessoa que
vejo aqui, é a Profª Lúcia Fazio, pessoa que admiro profundamente, pelo seu
profissionalismo, experiência, sabedoria e liderança. Com o seu olhar apurado,
me propôs um espaço para trabalhar com os professores da rede estadual com tema
afro quando Chefe do Pedagógico na 18ª CRE, eu tinha um certo medo de chegar
perto dela, afinal uma pessoa poderosa, os subalternos acabam por se
constranger, é inevitável. Enfim, alguns anos se passaram e essa mulher
visionária enxergou em mim um potencial e por esse olhar hoje continuo na
Secretaria de Educação desenvolvendo um trabalho muito importante para a nossa
sociedade sobre as etnias. E outra pessoa que não poderia deixar de falar, até
porque é uma pessoa que trabalha nos bastidores e detesta ser mencionado, mas
não sei quando terei novamente esse prazer e chance de declarar isso na sua
presença e diante de todos, essa pessoa é meu esposo. Em toda a nossa jornada
de vida pessoal e profissional, passamos por muitos momentos difíceis, mas ele,
esse presente que Deus me deu, jamais saiu do meu lado e jamais deixou de me
apoiar, apoiar minhas loucuras de projetos e mais projetos, idéias estranhas,
mas sempre acreditou que eu era capaz. Sempre me apoiou, sempre acreditou que
era possível e junto comigo, mesmo nos bastidores me acompanhou. Quantas vezes
deve ter pensado... Essa minha mulher é muito maluquinha... Mas sempre teve a
sensibilidade em entender que se eu não sonhasse e realizasse meus sonhos eu
morreria. Por isso, eu o agradeço.
Por
que digo todas essas palavras? Porque não realizamos as coisas sozinhos. Essas
pessoas que citei, representam muitas outras que também foram muito
importantes, mas que não há tempo hábil para mencionar todas. Essas pessoas
representam os nossos professores, nossos colegas de trabalho, nossos amigos,
nossos familiares. Assim como tiveram e ainda têm um papel muito importante na
minha vida, fosse no passado, no presente e ainda no futuro, hoje não estaria
aqui com o trabalho que desenvolvo sem essas pessoas que acreditaram em mim em
algum momento.
Moisés,
um personagem bíblico, era um adotivo de uma terra, de uma cultura, de uma
vida. Quando descobriu suas origens, se viu angustiado em fazer valer os
direitos do seu povo. Lutou pela libertação da escravidão, se empenhou em
tirá-los dessa terra que não o reconhecia. Sinto-me numa luta semelhante, aonde
me foi negado o meu legado, tal inquietude que há dentro de mim, onde recebi
todas as instruções de minha terra adotiva, mas que preciso reconhecer as
minhas origens. Hoje, nossos jovens tem a oportunidade através do grupo Afoxé
de fazer essa travessia pelo deserto em busca da sua casa mãe, assim como fez
Moisés. Às vezes no vemos sem saída, em frente ao Mar Vermelho, mas eu sempre
acredito que é possível as águas se abrirem e eu atravessar o mar. Jovens do
Afoxé e todos os presentes aqui, precisamos reconhecer e trabalhar para que a
história do negro seja reverenciada nesse país, porque não é mais possível
viver debaixo da intolerância, do preconceito, da discriminação. Precisamos
avançar!
Nós
educadores, pais, mães, profissionais da educação, aqueles que possuem
responsabilidades em cuidar do outro temos um papel muito importante sim,
porque nós poderemos ajudar os nossos jovens a avançarem ou se nada fizermos, a
se perderem pelo caminho. Os exemplos que dei foram fundamentais para eu
continuar e por isso, iniciei a minha fala dizendo que o que represento é
importante, represento a mulher negra, lutando pelo seu espaço, pelo respeito,
pelo reconhecimento. Represento grupos que não tem voz e nem tem vez.
Represento jovens e crianças negras que são discriminadas nas escolas, nas
ruas, nas lojas e que precisam acreditar que não é em vão lutar pelos seus direitos,
por serem pessoas, por serem cidadãos, por existirem. Represento todos aqueles
que se sentem colocados de lado por sua deficiência física ou intelectual, por
serem homossexuais, por escolherem crenças diferentes da dominante, por serem
simplesmente diferentes do padrão estabelecido.
Jovens
do Afoxé, a honra é minha ser escolhida por vocês. Um dos meus sonhos está
sendo realizado nesse momento, porque luto por uma sociedade democrática, onde
todos nós temos o direito de professar a fé que escolhermos, sermos valorizados
por nossas escolhas profissionais e estilo de vida. Eu sonho com um mundo
melhor para vocês e trabalho para isso, para que quando eu não mais estiver
aqui, vocês tenham os espaços de vocês garantidos.
A
honra é minha em poder fazer parte de um trabalho tão rico aonde tenho mais
aprendido que ensinado, onde os idealizadores (Marcelinhu e Luiza) acreditaram
em seus sonhos, assim como eu acreditei nos meus e foram em frente. Eles dizem
que eu sou importante para o Afoxé comemorar seu primeiro aniversário hoje, mas
eu sou como a Profª Eliane, a Profª Lucia Fazio, meu esposo e outros que
passaram por minha vida me incentivando, eu sou uma incentivadora, uma
sonhadora e também realizadora. Esse é o desafio! Nunca deixem de acreditar!
Nem deixem que riam dos seus sonhos, trabalhem e estudem bastante para
conquistar o que é seu por direito.
Grupo
Afoxé, meus afilhados, tenham uma Ingrid dentro de vocês, destemida, com
vontade de fazer, fervorosa, que acredita na revolução através da educação. Vão
à luta, não tenham medo de perder, de errar! Acreditem sempre que é possível,
porque hoje estou vendo através de vocês que o trabalho não é em vão, não é
perdido.
Muito
obrigada!
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